Meu filho Vitor tem quase 7 anos e a quase 5 anos venho convivendo com esse mundo particular chamado autismo. Antes de receber o primeiro diagnóstico do Vitor, quando ele tinha 2 aninhos, confesso que via o autismo com grande angústia, sentia certa pena das pessoas que convivem com pessoas autistas, e já tinha lido pouca coisa a respeito e nas poucas coisas que eu já havia lido, algo que era sempre citado como uma das grandes características é : VIVEM EM UM MUNDO PARTICULAR E EVITAM CONTATO COM OS OUTROS.
Receber o primeiro diagnóstico do meu caçula, me remeteu de imediato a essas palavras, imaginar meu menininho crescendo sem querer meu abraço me matava por dentro, afinal sou uma mãe extremamente grudenta. Gosto de cheirar, abraçar, morder, dormir de conchinha, e meu filho mais velho saiu igualzinho a mim. De repente, meu caçulinha até demonstrava se sentir seguro e gostar da minha companhia, desde que eu preservasse seu espaço e mantivesse uma certa distância que eu teria que aprender a respeitar.
E assim as coisas foram acontecendo, eu sempre perto, parecendo mendigar um ''Mamãe eu te amo!", que demorou um bocado pra chegar.
Cada dia eu arriscava um toque novo, um cafuné, um beijinho, e devagar, eu chegava cada dia mais perto. Quando ele chorava, eu o agarrava, e mesmo com ele me repelindo, eu ficava falando bem baixinho no seu ouvido: Eu tô aqui, te amo meu filho, do jeito que você é.
Com o tempo, as coisa foram acalmando, as crises de choro que pareciam intermináveis foram reduzindo de tal maneira que hoje em dia é raro ver o Vitor chorar.
Então ele começou a se acostumar a me ver por perto, e tenho certeza que ele compreendeu que eu queria muito estar por perto, pois ele foi me aceitando cada dia mais.
Estranho né? Uma mãe contar que precisou de "treinar" seu filho para aceitá-la. Poucas mães serão capazes de entender o que é isso. Parece algo natural, receber o amor de um filho, mais comigo não foi assim. Precisei provar pro meu filhinho que ele podia contar comigo, que eu aceitava ele daquele jeito. E EU CONSEGUI! E NÃO TENHO NENHUMA VERGONHA DISSO, cada dia eu provo pro meu filho que ele tem alguém que ele pode contar, e quando ele me olha com aqueles olhos esbugalhados, eu tenho orgulho de mim. Orgulho de saber que tenho conseguido ser amiga do meu filho.
E quando as coisas ficam difíceis, quando a agonia aumenta, quando o medo chega perto dele, ele sabe que pode contar com meu abraço e com o meu sussurro no seu ouvido:
- Filho, eu tô aqui e te amo do jeitinho que você é.
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